quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Tudo o que precisa ser dito

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Sarah inspira e expira, para depois abrir a porta. Victor está sentado no sofá, assistindo alguma coisa com gritos sofridos e derramamento de sangue que ela não tenta descobrir o que é. Ela faz silêncio e o observa. Estão juntos há cinco meses e essa seria a primeira discussão em que ela estava mesmo empenhada em ganhar. Brigar com ele partia seu coração em mil pedaços, mas como uma mulher de poucas palavras e muitas ações, Sarah tinha que dizer todas elas. Ela coça a garganta e Victor levanta a cabeça em sua direção e sorri. Isso torna tudo mais difícil.
Quando está com ele, Sarah deixa todo o resto de fora. O aluguel atrasado não parece importante, os pais negligentes se tornam distantes e a correria na faculdade se transforma em um resort. Tudo parece mais bonito e leve, como se ela estivesse sentada na cela de um cavalo, girando sobre um carrossel que entoa uma música alegre. Ele era seu porto seguro, seu lugar secreto, sempre pronto para tomar suas dores e sorrisos como dele.
Sarah reprime o sorriso e engole seco. Comprime os lábios e deixa a bolsa cair no chão. Victor a conhecia melhor do que qualquer outra pessoa, embora tenha tido menos tempo do que a maioria. Em sete meses ele já havia desvendado todos os seus sorrisos e todos os seus olhares. Sua expressão naquele momento não foi mistério nenhum para ele. Victor franziu os olhos para ela e, com o controle na mão, desligou a TV. Os gritos tortuosos que preenchia o lugar cessam.
— O que foi? — ele diz e sua cabeça pende para o lado enquanto a observa até que ela chegue a sua frente.